Archive for junho, 2012

dig it, Seamus Heaney!

dig it, Seamus Heaney!

na poesia
debruçar sobre as vogais
os cerrados
e revolver as mulas da infância

quanto tempo gastei meu corpo bêbado
sobre os montes de terra
com as ferragens cozidas
pelos modos das gentes do meu povo

quantas guerras fiz
no meu braço de arame
que comia hóstias, corpos de santos
e moças fora do tempo

quantas sílabas contive nos dentes
com todos a me cobrar
a dívida da história.

são outros os perdões que eu mesmo peço.

romério rômulo

21 junho, 2012 at 1:42 pm 2 comentários

a orelha dura de van gogh

a minha carne é extrato em ferro
de uns demônios que destroem, loucos
os pavimentos do mundo e me cancelam

umas linguagens mortas, destratadas
pelo desejo de uma mão dobrada
que lhes entregue o morto a cada noite

quando romper o escuro é permanência
quando subir tapumes é maldade
ao me sobrar o canto iluminado

pela boca febril de caravaggio
pela orelha dura de van gogh
neste fantasma de casa que me cerca.

romério rômulo

19 junho, 2012 at 4:10 am 1 comentário

vila, 1

esta vila é uma verdade
plena de matos e pedras
rica de ouros e águas
espraiados pelos corpos
que ontem se viram escravos
nos atos mais comezinhos

onde cada ponte leva
onde cada água afunda
a memória dos algozes
do ouro por sucumbir
em lanhos, facas, machados
nos próprios ossos das gentes?

quanta carne se abriu
nos cantos desta cidade
que a fizeram roer ossos
e quebrar-se pelas pedras
entremeadas, devotas
com verdes caldos de lama?

o seu corpo é do diabo
a sua alma é fundida!

romério rômulo

18 junho, 2012 at 12:48 am Deixe um comentário

montar a musa, 5

montar a musa, 5

montar a musa é mais do que fatal
que além de tudo a engrenagem entoa
(que importa a mim se a bicharia roa?)
e eu enfio os pés no lodaçal.

juntadas as regiões nobres e as paletas
lavradas em oficinas, todas elas retas
montá-la é desmontá-la pelo avesso:

onde faltar questão, eu ponho gesso.

romério rômulo

12 junho, 2012 at 12:01 pm 1 comentário

quando um bordel me ocupa

minha casa é um agasalho
ocupado por scliar
onde afro-sambas e baden
vinicius, guignard, clarice
caminhavam seus direitos.

nos seus domínios inteiros
um minotauro vigia
as portas inanimadas
onde tantos que passaram
não passam mais por inteiro.

fugiram pelas paredes
levaram os seus cordéis
suas artes, suas frestas
seus corpos de pura sede.

umas terras me contornam
uns gados me alumiam.
alices, joaquinas, vós
celinas, mães ressecadas
me alegram a paciência
de lembrá-las por meu corpo.

quanto de mim vale um anjo
quando um bordel me ocupa
se os atos dos cilícios
não me contêm os pecados?

romério rômulo

6 junho, 2012 at 11:26 am 1 comentário

quanto de mim vale um anjo

quanto de mim vale um anjo
se cada vazio oculto
se traduz por um diabo
na alma cheia de dentes

meus cavalos e pedreiras
minhas glândulas atávicas
os umbrais da minha sede
prontamente se revelam

uns bois de olhos sagrados
me contemplam com seu dorso
de pura dureza vista
nos antanhos já bebidos

são anjos, demônios, roncos
de uma pele atrevida
já pisada de histórias
e pratas não semeadas

quantos deuses me engolem
quantas almas me sufragam
se a avó em ato louco
pôs suas asas sobre mim?

romério rômulo

2 junho, 2012 at 6:15 pm 1 comentário


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