Archive for agosto, 2011
poesia, 5
há poetas que cozinham
noite e dia
na suave oficina da poesia
eu cozinho a poesia
chifre e rabo
na dura oficina do diabo.
romério rômulo
musa e vestal, 1
1.
a musa e a vestal são meus abismos.
se abro uma, contém mirabolâncias
se abro outra, descubro silogismos.
vou revelá-las em todas as instâncias
cobertas de razão, mas sem juízo.
2.
a musa e a vestal são as amantes
do meu corpo imperfeito de narciso
e cegamente refletem meus juízos
num estado de ferro e de diamante.
vou amansar uns ópios indecisos.
romério rômulo
desmontar a musa, 1
1.
eu pego da amada os parafusos
e reconheço cada, nos seus usos.
jumelos, lambrequins e outras gentes
monto e desmonto os olhos e os dentes.
daí carrego a musa em meus arreios
pra assegurar os tanques e os freios.
a vida já virou uma caçada
quem sabe dos chassis da minha amada?
2.
vou remontá-la toda, em madrugada
numa poesia de dança e gargalhada.
romério rômulo
maradona, virgulino e limeira, 1
1.
eu chamei maradona e virgulino
pra um serviço no couro do sertão
minha alma de santo e de menino
escondida num verso fescenino
se perdeu no primeiro palavrão.
2.
maradona sacou seu dom divino
virgulino vestiu de lampião
zé limeira ferveu no desatino
qualquer deles não tem comparação.
ninguém viu um encontro tão moderno
o sertão é o beco do inferno.
romério rômulo
maradona torceu o parafuso
1.
maradona torceu o parafuso
e bebeu o gol de muitas gentes
com o cântico dos cânticos cafuso
fez tremer as terras e os dentes
dos corpos a sobrar, todos confusos
por sua bala no teto dos desplantes
sob a injeção de deuses e descrentes
num pisar de anões e de gigantes
a encantar caretas e dementes.
2.
maradona torceu o parafuso
encontrou o pavão misterioso
com um gol, o mais belo e amoroso
fez cair toda regra em desuso
ao rasgar a nervura do tufão.
maradona, percebido furacão
a caber numa banda de tambores
com a alma mordida de amores
sex pistol que joga com a mão
carregado na poeira dos andores
por um santo de cícero romão.
3.
pra mirar no poeta, cão recluso
maradona torceu o parafuso.
romério rómulo
se eu fosse maradona, 25
olhando por cima d’ água
eu sou bicho mamulengo
no anzol e na anágua
plantei muito capim bengo
plantei pólvora, novelo
espinho, pele e cabelo
comprei cavalo, novilho
pelo fim toquei sanfona
de tudo comprei, meu filho
ah! se eu fosse maradona!
romério rômulo
posses, 1
no meu olhar de alçapão
na minha pele de escova
na minha mão de bigorna
no meu dedo só impulso
no meu enfado bandido
no meu riso de atropelo
no meu antro de desdém
na minha quadra de luzes
na minha vila 18
no meu cabelo de estopa
a minha casa dos contos
o meu quinto dos infernos.
romério rômulo
os meus cavalos são mesmo poetas
1.
bandeira chega em observação
pelos cavalos sábios, eles todos.
carrega as suas patas como rodos
a abater o mundo em poesia.
bandeira só faz versos na agonia.
2.
há um cavalo nos pastos, de sonetos
imbuídos das estradas mais sutis
seus olhos arrombados foram pretos
suas pisadas todas são febris
e trazem tudo sobre os atropelos
na sua fonte, noite de novelos
das águas, dos azuis, dos desmantelos.
3.
camões tem o beneplácito das sombras
de umas damas pias e gozosas
pelo seu tempo dormem nas alfombras
são umas éguas vis e saborosas.
romério rômulo