Archive for dezembro, 2011
lampião e maradona, fragmento
lampião e maradona, fragmento
sou um cabra danado de vazio
cada furo que faço é um arrepio.
cada poça de água, ceará
bem-me-quer, mal-me-quer
mas não me dá.
romério rômulo
mote para dezembro, 1
eu deixo a casa vazia
meus cavalos d’além mar
um caravaggio nos ossos
um maradona no olhar
um goya feito do avesso
meu corpo sem endereço
se dezembro me matar.
romério rômulo
não consigo me livrar desse poema
tenho medo.
o medo de viver sob essa pele,
o medo das mulheres que me absolvem do pecado,
o medo do câncer que termina em morte.
medo das estradas sem caminho,
do envolver o espanto do meu olho
e derivar os poemas da noite.
medo dos cachorros é o que tenho.
tenho medo dos cavalos,
da beleza que destilam
quando eu não consigo a coragem de vê-los.
tenho medo do olhar,
de todos os olhares:
a vida lhes pulsa o meu medo
e só me cabe retê-los um pouco.
o grande medo,
o medo que estarrece,
o medo que me promete a explosão da carne,
é o medo da pele que me come
e eu não vejo.
não sei da vida,
não sei da morte e suas atrofias
e me revelo no medo.
tenho medo da loucura,
das mentiras e verdades que me roem,
do meu sono e da minha insônia.
o suicídio é um alento carregado de medo:
o medo do fracasso.
a coragem
é o arremedo
da minha clave escondida.
de todos os medos
arranquei meu dia
e não consigo me livrar desse poema.
romério rômulo
dados, lance 1
se bem me esqueço
nascer é tropeço
se bem me lembro
morrer é dezembro
tudo é um jogo
de terra e fogo
a embebedar
a água e o ar.
romério rômulo