Archive for maio, 2009

só o tempo desliza

sou fátuo, de passagem, companheiro,
com doce riso a assobiar maçãs.
corpo assombrado de imagens, umas bielas
tardias que se fazem soltas.

se o corpo é redemunho, o que me assola a alma?
se o corpo é um dentro, o que trará?

posso regar a noite de auroras.

25 maio, 2009 at 3:24 pm 16 comentários

verbo em alavanca

chuva fala do olho.
ciscos, tamancos da alma, dizem
ser o mundo meu estado e manhã.

sobrava-me, no olho, o vesgo do teu hálito.

quando cismas, explode o mundo e o verbo
em alavancas.

22 maio, 2009 at 8:23 am 6 comentários

bagagem

trago
uma secura no meu lado direito
que me proíbe de vender bananas.
trago
um martelo, tonel de badalos
que me safira e empresa os olhos.

quando milhos, tenho tantos
que me encarrego do tombo.

a sutil faca me faz anacoreta.

20 maio, 2009 at 6:19 am 7 comentários

as putas

as putas surgem na manhã, encruzilhadas
de corpo e ato, verdade que refreia
o noturno das almas.
cada corpo e olho trazem demandas
impulsionadas nas veias.
muitas extirpam a dor. outras, dor
já amada, fazem daquilo seu tempo.
e a mulher é lava adolescente.
se vista à necessária distância
seu pulso vive como antro de larva
em repulsa da mão que lhe percorre.

dilaceradas, lhes sobra um mundo vesgo.

17 maio, 2009 at 7:17 am 14 comentários

(intima, sua luz refrega substância.)

as putas ferem a noite com um olhar de luz.
vermelhos, sabem quando a cama resvalada
pode ser vista dos ângulos.
sabem-se frutas tão nascidas quando
ressecadas
e a prenhez de suas valas cabem, de mãos,
toda a terra.
o homem furtivo lhes deriva a noite
como canto. quando o estalar da terra
fala, um novelo contém o corpo.
há que tocar o novelo, feri-lo e resguardar
seus montes.

15 maio, 2009 at 7:14 am 6 comentários

o objeto de mim

teu encanto é de pedra.
teu olho, a paridade do ovo.
teu caminho, o lastro do espaço.

se vieres, direi do teu instante,
pisarei teu reflexo como estado do corpo,
transporei a vila como são transpostos
as peles e os bichos.
e de ti, estado, farei o objeto de mim.

qualquer cão passado saberá deste ato.

13 maio, 2009 at 3:13 pm 8 comentários

louco, cimentado *

o meu cabelo é louco, cimentado
por cabedais em tudo transparentes.
carrego umas vogais de acessório
pra desditar poemas de indulgência.

o beijo, amigo, é a véspera da fome
que nos percorre: josés, joões, sem nome
sem consoantes uns, consonantados
outros. bêbados, invertebrados

da sanha do mundo. ruidosos calos
nas mãos de enxadas e assobios
suas visões são uns caudais de rios
que regam o mundo todo de abalos.

numa aparência louçã, insandecida
vou rebelar a noite de vestais
nuns sobremodos de maus modos tais
que até a morte vai se ver na vida!
 

* Do livro Per Augusto & Machina, a ser lançado brevemente

7 maio, 2009 at 9:40 am 30 comentários


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